sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Faixa 6 - KitCowboy + Jota - "Caricias"

Kiko: Voz
Paulinho: Teclados
Jota: Baixo

Certa noite, apareci à frente do Paulinho com uma ideia: queria fazer uma animação sobre um vegetal que chegava a casa e batia às portas todas. Era uma complexa história de boas-maneiras que eu gostava de ver concretizada na forma de uma curta animação. O Paulinho aceitou fazer os desenhos e animar a coisa, o que demorou cerca de duas semanas. Uma vez pronta essa fase, passou-se tudo ao Kiko que tratou da sonoplastia. Mas faltava algo: a banda sonora.
O filme tinha dois minutos, ou seja, conseguiamos encaixar ali quatro temas :D
Aqui é importante explicar quem são os KitCowboy: são basicamente o Kiko e o Paulinho com um teclado gigantesco dos anos 70/80. Sempre que aquele teclado toca, é KitCowboy, é como se o instrumento passasse bem sem eles. Eu aqui surjo como o terceiro elemento, como havia o quarto nirvana, o quinto Beatle, etc.
Por isso, o que vais ouvir é a versão completa de uma das músicas dessa banda sonora, do filme "Manners by Tomatoes", que podes encontrar no Youtube.

Faixa 5: Jota + Kiko - "Death at the gates"

Jota: Voz
Kiko: Tudo o resto.

Um tema grandioso, que é também o mais recente de todos, uma vez que foi gravado há duas semanas.
E é grandioso porquê?
- Porque eu canto metal. Foi assim que descobri que dá muito mais trabalho do que pensava, mas ainda não desisti, ainda vou lá cantar outra vez. Além disso, não acho que esteja péssimo. Eu ouço sem problemas e divirto-me. Nunca tinha tentado cantar metal e sempre quis. E soube muito bem.
- Porque a letra é feita sobre o episódio da história de Portugal ideal para fazer Metal: a morte do Martim Moniz. Fizemos esta música como prenda de aniversário para o Luciano, que adora Heavy Metal e História, e achei que nada melhor do que o conto de um soldado que morre entalado nas portas para abrir caminho à vitória cristã para servir de mote.
Ainda vou gravar um solo para esta música, e repetir as gravações das vozes, depois se calhar mostro-te como ficou. Mas fica aqui o apontamento Heavy Metal :D

Faixa 4: Jota + Kiko - "The Brian Joneston Massacre Hidden Song"

Jota: Guitarra, metade das vozes e assobios.
Kiko: Tudo o resto.

Esta é fácil. Basicamente, andámos meio fascinados com uma banda próxima dos Dandy Warhols: The Brian Jonestown Massacre. É o melhor nome de sempre e ao que parece havia muitas editoras a achar o mesmo, até que se descobriu que os TBJM eram incapazes de acabar um concerto sem se tentarem matar uns aos outros.
O que interessa é: gostámos da forma totalmente crua como eles faziam músicas e quisemos fazer o mesmo. Obviamente que ao fim de duas horas já estava tudo cheio de teclados, etc, mas a intenção está lá.
Tem umas bonitas 16 linhas de vozes gravadas, e um total de 32 faixas, se não me engano. Não parece, mas é uma sinfonia. Utilizámos tudo o que fazia som naquele estúdio. Acho que ficou engraçado. Foi gravada num Domingo de Verão este ano e está catita. É daquelas que representa bem o que quero: não é algo para mostrar ao Mundo; é uma coisa que eu possa ouvir no carro e gostar.

Faixa 3: Jota + Kiko feat Monsieur Alphonse - "Substância Activa"

Jota: Voz
Afonso: Foi dele a proposta de fingirmos os três gritos ritmados de exército. Não correu bem, mas dá para rir.
Kiko: tudo o resto.

Eu e o Kiko gostamos de gravar músicas numa tarde. Começar às quatro da tarde e fechar a loja às duas da manhã. Ele é um excelente profissional do som e eu gosto muito de fazer estas coisas com ele, porque vale tudo. Um dia podemos fazer uma música da praia, na semana seguinte fazemos uma metalada de todo o tamanho. É bom.
Nesta tarde, um Domingo qualquer de Julho, tinhamos decidido fazer uma música à Mão Morta. À Mão Morta para mim, porque para ele o objectivo era Nine Inch Nails. Saiu uma das melhores coisas que já se fez por nossas mãos (pois, isto não vai melhorar muito). A letra corresponde aos efeitos secundários de um medicamente qualquer, que eu li directamente do papel ("dismenorreia" e "neuromusculares" são dois momentos que me fazem rir sempre).
Com esta música abriu-se um precedente terrivel: já ninguém precisava de escrever letras. Basta ler o que estiver à mão e coordenar com a música. (o Kiko tem uma música em que lê espectacularmente o Manual do Protools. Eu já lhe disse que pode ficar rico facilmente. Pode ser que aconteça).
Esta música tem:
- Gritos do banco onde todo o sonoplasta vai buscar gritos. Um dos gritos é utilizado constantemente em inúmeros filmes desde há dez anos (as coisas que eu ando a descobrir).
- Uma pistola do chinês: é o grande instrumento de solos do kiko, uma pistola que emite sons de tiros e explosões. É a coisa mais manhosa de sempre, mas nunca vi aquilo falhar uma única tonalidade. Soa sempre bem, é um milagre.
- Um solo de headphones: o feedback que vais ouvir foi uma das coisas mais fascinantes que já vi fazerem - é conseguido mudando a distância entre microfone e headphones. Eu sei que se faz com guitarras, etc etc, e que o principio dos phones é o mesmo, mas ver uns phones darem notas diferentes assim daquela maneira, nunca tinha visto.

Gosto muito deste tema.

Faixa 2: Jota + Flip - "O Pano Laranja"

Jota: vozes
Filipe Sousa aka Flip: tudo o resto, a partir do computador.

O Flip tem um estúdio que fez com as suas próprias mãos. Para construir aquele pequeno estúdio na cave debaixo do apartamento da avó, que agora é dele, trabalhou durante anos. Nunca foi muito organizado, mas nunca desistiu. Chegou a trabalhar para um homem que lhe pagava em barrotes e alcatifa industrial azul (sempre azul) para o estúdio. E mal conseguiu ligar pela primeira vez um microfone e um computador lá dentro, começou a gravar, e nunca mais parou.
O estúdio do Flip tem talvez a área da nossa sala de baixo, mas completamente cheio com os móveis que a avó foi guardando ao longo dos anos. Estes móveis (e etc) dividem o espaço com dois pianos, uma bateria electrónica, uma sala para gravação de voz, cinco bancos, n guitarras... Não sei como se grava lá, mas a verdade é que é possível, e já têm saído de lá belas coisas.
O Flip não é um profissional da edição como o Kiko, é um romântico. Ele acredita que as coisas simplesmente acontecem quando têm de acontecer. Hoje já não consigo gravar com o método dele, salvo raras excepções. Continua a ser bonito gravar com aquela inocência toda, mas isso agora faço em casa.
Esta "música" é um bom exemplo disso. Acho que devemos ter gravado isso em 2006, mas não faço ideia. Basicamente, o Flip queria nivelar microfones, então pediu-me para fazer umas linhas melódicas. Eu gravei uns coros e depois ele insistiu para que eu falasse sobre uma palavra que ele me tinha dado. Há três discursos sobre três temas nessa gravação que ouves. O que está em voz principal é sobre o mar. Lembro-me de só pensar enquanto gravava "detesto que me obriguem a improvisar assim", mas acabou por sair algo. Gosto dos coros e do contrabaixo, são eles que tornam possível ouvir isso. Decidi incluir na "compilação" porque a fase da cave do Flip, que veio entre Impopos e os seguintes é uma fase importante: permitiu-me não parar de criar.

Faixa 1: Impopos - "Não"

Impopos (1999):
Voz - João
Guitarra - André Quaresma
Baixo - Zé Casimiro
Bateria - Kiko
Piano / Percussão - Filipe Sousa
O que mais houver - Nic
Nota: Esta versão do Não só tem voz, guitarra, baixo e bateria, por motivos que se explicam abaixo.


Os Impopos foram a minha primeira banda com ar de quem "um dia ainda há-de ser a sério, se continuarmos a brincar e tivermos sorte com a direcção do vento". Para explicar como surgiram é preciso ir mais atrás, aos primeiros tempos da Alapraia e ao dia em que eu, o André, o Kiko, o Chaves, o Roger, o Freitas, o Trêpa, o Ruben, o Edgar, etc etc, formámos essa grande filarmónica que eram os Overgreg.
Os Overgreg tinham mil membros, mas apenas uma viola, uma guitarra eléctrica, um caixote do lixeo de metal a fazer de bateria e um teclado do qual só funcionavam três teclas. A única música alguma vez feita pelos Overgreg (onde ninguém sabia quem tocava o quê, mas suspeitávamos) foi uma coisa que nunca teve letra e era espantosamente parecida com o "Winner Looses" dos Body Count.
Eventualmente saímos da Alapraia, e como já éramos adultos já não podiamos brincar às bandas, por isso acabaram-se os Overgreg (ou as referências aos Overgreg, mas isso falhou, porque ainda falamos disso).
Acabaram-se os Overgreg e começaram as bandas mais a sério. O Kiko e o André formaram os Micky8 com o Barrigas, a Joana Anta e o Zé Casimiro. Correu tudo bem (a banda durou até 2004, se não me engano), mas era pouca palhaçada. Precisavam de outra coisa.
A oportunidade surgiu com o "Estrelas tu, Estrelo eu", o concurso de bandas do Liceu de São João, que tinha sido suspenso durante um ano por uma das edições ter acabado com a policia a entrar na escola. Não há cenário melhor.
Faltavam duas semanas e o André perguntou-me se eu queria fazer uma banda com ele. Eu aceitei logo, obviamente, porque já estavamos habituadissimos a escrever e a tocar juntos, por isso ia ser fácil. Os outros membros surgiram do grupo clássico, acho que ainda antes da hora do almoço (já não sei como chegámos ao Zé, mas sei que ele também não deu muita luta).
Os Impopos tornaram-se um mito na minha geração em São João: a melhor banda de sempre, que só aparecia uma vez por ano. Isto porque nenhum de nós queria dar cabo dos estudos, então não davamos concertos. A verdade é que em São João na altura só havia três tipos de música: hardcore, hip-hop e ska. E nós não tocavamos nenhum dos três.
Participámos na categoria de originais duas vezes, ganhámos as duas. Nesses dois anos ganhámos também cover duas vezes (LSD 25 e um Gajo muita fixe) e fomos segundo lugar em playback total com os Europe "The Final Coutdown". Pelo caminho houve uma festa de Natal da escola em que nós só parámos de tocar quando a sala estava literalmente sem pessoas. Mesmo. Eu é que decidi quando acabava a festa, porque vinhamos de duas vitórias em dois anos no Estrelas e estava na altura de ter uma atitude. Nós sabiamos que estavamos para último, então quando a música feita de véspera (como eram todas as de Impopos) entrou na sua última frase, repeti-a até à exaustão ("sem finaaaal, sem finaaaal") e comecei a acenar às pessoas para que se fossem embora. Não quero mentir. Sei que saiu muita muita gente da sala quando comecei a acenar.
O "Não" foi a primeira música que tocámos ao vivo: a presidente do júri era a senhora que fazia a voz da Moulinex, e ganhámos com grande margem sobre os outros. Foi um orgulho, porque eu nunca tinha pensado aguma vez cantar ao vivo e tinhamos conseguido criar um ambiente único, com os fatos aos 16 anos e conversas a meio das músicas.
Na altura eles preferiram investir em Micky8, mas sempre lhes disse que Impopos é que era. Hoje concordam comigo. Não há rancores de não termos seguido com a banda: ficámos com óptimas "fotografias" e em 2011 já temos tudo combinado para gravar um segundo álbum, seis anos depois do primeiro (do qual constam cinco músicas).
Esta versão do Não foi gravada em 2004, no challet, numa única noite, duas semanas antes de eu ir para Madrid. Foi tudo gravado à pressão, e não é a versão final. Essa está em casa do Flip há séculos: tem um solo magistral do André, um bom piano do Flip, e há até uma versão deluxe em que a mãe do Flip canta.
Mas esta é a que tenho. Espero que gostes. É uma critica às aparências na sociedade :D

Introdução.

Hello, e bem-vindo à tua prenda de Natal. A ideia aqui é: se eu toco há anos e anos, como é que nunca ouviste nada meu? Provavelmente também já te interrogaste sobre isso e hoje vais ter a resposta, que te dou já: porque nunca valeu a pena. :D
Mandei-me ao iTunes e vi o que tinha aqui de músicas para te mostrar. Havia um critério óbvio: tinham de ser músicas em que eu tivesse participado.
O blogue acaba por servir como legenda, para compreenderes o que ouviste, estás a ouvir ou vais ouvir. A música sempre fez parte da minha história, como um elemento presente, mas não tem aquele peso que acho que vocês pensam ter. O Kiko uma vez disse e eu estou de acordo com ele: "Normalmente os grupos de amigos tiram fotografias uns aos outros. Nós fazemos músicas." Uma música a sério demora dias e semanas a ser produzida. Nós já nos deixámos de preciosismos há muito tempo e fazemos um álbum numa tarde. Tem vantagens e desvantagens, mas divertimo-nos à grande. Se sai alguma coisa de jeito, acabamos por gravar melhor, mais a sério, posteriormente.
Por isso, o que te vou apresentar são algumas das "fotografias auditivas" que temos feito nos últimos dez anos. Espero que gostes.

E Feliz Natal 2010 :D